Sunday, June 19, 2011

Dia 1

Ontem fui, com os meus pais e com o meu irmão, a Leça da Palmeira. Estacionámos o carro e demos uma volta pela costa, estava um belo fim de tarde. A certa altura reparei num grupo de pessoas concentradas perto do farol. Aproximámo-nos para ver do que se tratava, não era a primeira vez que algo dava à costa chamando à atenção dos transeuntes. À medida que nos aproximávamos reparei que a relva em torno do farol tinha uma tonalidade diferente, o farol também estava em mau estado cheio de fendas, chamuscado, vidros partidos, porta arrombada e danos de outra natureza, que não consegui definir. Fiquei com um sentimento de apreensão em relação a este cenário.
A certa altura oiço o meu pai a chamar por mim, para eu ir ver qualquer coisa. Ele estava junto das outras pessoas, chegou lá primeiro enquanto eu examinava o farol. Quando cheguei junto dos meus pais fiquei abismado com o que tinha hipnotizado a turba... Pequenas esferas azuis que irradiavam o que parecia pequenos focos de luz e choques, os pontinhos davam uma noção de profundidade concêntrica, quase como se de buracos no ar se tratasse. A maior parte das pessoas estava curiosa e extasiada com este fenómeno, tentavam tocar no fenómeno e levavam uma leve descarga de energia, riam-se e fugiam para o meio dos outros como verdadeiras crianças. Contudo aquilo que mais me estava a causar nervosismo eram 3 pessoas que tinham certos tiques que mostravam um certo medo mas ao mesmo tempo impaciência (causadores do fenómeno?) . O céu escurecera um pouco e era possível ver o sol, que se escondia por trás de um manto de nuvens, a inundar a paisagem de tons vermelhos. Algo congeminava contra nós... Lá ao fundo no horizonte dava para ver um rasto de iluminações errantes que rebentavam dentro das nuvens, parecia-me relâmpagos mas eu nunca tinha visto nada assim e rapidamente a tempestade já caía sobre nós! Uma vez que não havia abrigo nas proximidades as pessoas começaram a entrar para o farol, a minha família e eu inclusive. Estava um pouco mais escuro dentro do farol a pouca iluminação, avermelhada, que havia, surgia das fendas na estrutura do farol, sendo sobreposta, a iluminação, pela luz dos clarões que se avizinhavam. A estrutura do farol divergia um pouco, havendo na mesma a forma, tecnocrática, falocêntrica a violar os céus, tinha também uns pequenos anexos com entrada directa para o farol a partir do interior. Refugiámo-nos dentro dos anexos, que começavam a ser sacudidos pela tempestade. Olho pela janela e reparo num foco de luz no chão, diante da porta de entrada, que começava a ficar cada vez mais intenso e a ir de encontro ao anexo. Foi neste preciso momento que fui inundado de medo ao som de um rugido metálico vindo dos céus, a mãe de todas as tempestades preparava-se para se abater contra a frágil estrutura onde me encontrava, nisto pego no meu irmão, que estava no ponto de mira da calamidade, personificada por um poderoso trovão, e atirei-o para a divisão paralela à porta de entrada. Para meu espanto esse foi exactamente o ponto de eclosão do trovão, com lágrimas a escorrer corro até à pilha de destroços fumegante e retiro de lá o meu irmão... Impossível, pensei eu, como foi possível ele escapar incólume de tamanha raiva celestial eu não sei, mas abracei-o com força... Um raio não cai duas vezes no mesmo sítio, dizem... Após este susto a bolha que me separava do resto dos acontecimentos que nos envolviam rebentou, olhei e vi o caos, corpos empilhados a um canto e grande parte da estrutura danificada. Todos os que se conseguiam mexer correram até ao farol num acto de desespero, instinto primário de sobrevivência a actuar. O caos diminuía à medida que a intensidade da tempestade abrandava o que era estranho, pois a tempestade apenas acalmava, mas não mudava de sítio. Enquanto isso o meu pai dirigiu-se até ao cimo do farol juntamente com mais 2 pessoas para ver se a tempestade estaria a desaparecer ou a deslocar-se, enquanto isso entramos nos anexos e começamos a ajudar os feridos, que consistia apenas em pegar nos seus corpos mutilados e tirá-los d'entre os cadáveres que formavam uma tapeçaria, no chão. Saímos dos anexos e ficamos, por momentos, perplexos a olhar para a paisagem... O oceano tinha secado e os edifícios de Leça da Palmeira desaparecido. A tonalidade da relva que circundava as estruturas do farol partilhava agora a mesma cor que o resto da paisagem, um castanho claro. Notava-se pela erosão da costa e pelo brilho dos cristais de sal, que reluziam ao sol que se instalava, que já teria havido aqui um oceano, contudo não havia qualquer sinal de que alguma vez tivesse havido vida por estes lados. Passei a explorar a costa e de facto, era-me familiar, era o mesmo sitio por onde eu havia passado há menos de 3 horas num passeio familiar. Ainda pus em cima da mesa a possibilidade de estar a ficar completamente maluquinho. Enquanto me questionava sobre essa possibilidade ouvir o meu nome a ser chamado no horizonte não ajudava a por de lado uma possível psicose... Viro-me e reparo que realmente me chamavam do farol, corro até ao farol e subo até ao cimo do farol...
- Olha lá para o fundo, que vês?
- Parece-me ondas de calor...
- Exacto!
- E que tem isso de especial?
- Hás-de reparar que essas ondas de calor estão concentradas num único sítio...
Ponho a mão na testa para fazer sombra.
- Sim, estou a ver! Mas qual é o problema?
- Quando viemos para aqui ver a tempestade reparamos nisto, achamos peculiar, mas começa a preocupar-me. A onda parece estar a expandir-se.
- E só agora é que nos avisas? Temos de avisar o resto das pessoas!
- Eu não sei o que se está a passar... Não sei o que fazer!
- ...
- Não podemos assustar mais estas pessoas sem sabermos ao certo o que se está a passar.

Entretanto anoitece e a temperatura baixa, mas as ondas de calor continuam lá ao longe.
Pegamos nos barrotes de madeira que haviam caído do telhado dos anexos e fez-se uma fogueira para aguentarmos a noite. A moral estava em baixo, especialmente ao ouvir a tétrica melodia tocada pelo vento ao passar pelos corpos empilhados no exterior, como se de uma harmónica se tratasse. Esta seria a primeira de uma série de noites... Ainda ontem estávamos nos nossos lares com todas as comodidades e hoje estamos entre mortos, desconhecidos, com fome, sede, num farol que não ilumina o seu inexistente propósito e longe de casa... Eu tenho a minha família comigo, quem me dera estar só... Pensamentos de um crente em leito de morte invadem-me a mente, adormeço...

- Psst!
- Psssssst!
- Ahn!? - respondo eu ao acordar estremunhado.
- Olha lá para fora... - Diz-me um senhor com os seus 50 anos que dormia próximo de mimDirijo-me à janela e vejo várias luzes à volta de uma estrutura piramidal e algo a flutuar perto de uma outra estrutura.
Entretanto o sol nasce...



Posted by Insidious :: 6/19/2011 :: 0 Comments:

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